domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sobre exclusão

Boa noite!

Hoje revirando os livros encontrei um que me apaixonei, não por falar o que é belo, mas por me colocar no lugar do outro e me ver nesse próprio mundinho.


Os ninguéns

Eduardo Galeano - O livro dos abraços

          As pulgas sonham com comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico a sorte chova de repente, que chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chove ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinhacai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.
          Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.
          Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
          Que não são, embora sejam.
          Que não falam idiomas, falam dialetos.
          Que não praticam religiões, praticam superstições.
          Que não fazem arte, fazem artesanato.
          Que não são seres humanos, são recursos humanos.ue não têm nome,
          Que não têm cultura, e sim folclore.
          Que não têm cara, têm braços.
          Que não têm nome, têm número.
          Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
          Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.

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